sexta-feira, 27 de abril de 2012

Carro “fácil” volta à concessionária


Economia

Sexta-feira, 27/04/2012
Henry Milleo/ Gazeta do Povo
Henry Milleo/ Gazeta do Povo / O empresário Michel Prado: na soma das parcelas do carro, do imóvel e de um empréstimo, dívida mensal é e R$ 1,8 milO empresário Michel Prado: na soma das parcelas do carro, do imóvel e de um empréstimo, dívida mensal é e R$ 1,8 mil
FINANCIAMENTOS

Carro “fácil” volta à concessionária

Empolgados com o crédito farto para comprar automóveis, consumidores assumiram parcelas altas demais. Agora, voltam às lojas para trocar o veículo por outro, mais barato

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Publicado em 27/04/2012 | CRISTINA RIOS
O recorde na inadimplência na venda de veículos, além de dificultar o crédito, começa a provocar situações inusitadas. Consumidores que saíram da concessionária com carro zero há um ano estão voltando às revendas para dar o novo de entrada e financiar um automóvel mais antigo, com prestação menor. Outros tentam repassar o carro e a dívida para terceiros.
Quem se empolgou com o crédito farto dos últimos anos e hoje precisa vender o carro porque não consegue pagar as prestações encontra ainda outra dificuldade. O automóvel está depreciando em média de 15% a 30% no primeiro o ano e muitas vezes o valor da venda não é suficiente para pagar o restante da dívida.
Problemas expõem risco de bolha
A alta da inadimplência no setor automotivo fez surgir no mercado a dúvida se o calote não é produto de uma bolha de crédito, formada a partir da explosão dos empréstimos com prazos longos entre 2008 e 2010. E se essa bolha não estaria “murchando” agora.
A maior parte dos empresários do setor admite que houve exagero na concessão do crédito por prazos tão longos. Mas o problema não se limita a isso. A questão é central é que o consumidor se endividou também com outros compromissos – eletrodomésticos, móveis, casa nova.
“O crédito no Brasil provavelmente vive um cenário de bolha. E essa seria a terceira fase, com a tentativa maior de bancos e consumidores de renegociar as dívidas”, diz o economista Luciano D’Agostini, professor da FAE. Ele prevê que a inadimplência do setor deve permanecer acima da média histórica até o fim do ano.
Além do crédito espichado, incentivos como a redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) fizeram crescer as vendas e empolgaram o consumidor.
Os primeiros sinais de preocupação do governo com o rápido crescimento do crédito vieram no fim de 2010, quando o Banco Central adotou uma série de medidas macroprudenciais, que, dentre outros efeitos, fizeram encolher os prazos de financiamento e restringiram a venda sem entrada de automóveis.
As medidas foram retiradas em 2011, mas, com a inadimplência subindo, os bancos não voltaram ao ritmo anterior. Instituições bastante ativas nesse mercado, como BV Financeira – adquirida pelo Banco do Brasil – e Itaú reduziram bastante suas posições nos últimos meses por conta dos atrasos nos pagamentos.
Para a Associação Nacional das Empresas Financeiras das Montadoras (Anef), o cenário preocupa porque até o momento não foi verificada uma reversão na tendência das curvas de inadimplência no curto prazo.
No desespero, alguns tentar repassar o carro e a dívida para outras pessoas, muitas vezes até de graça. Em sites na internet, como Repasso, OLX e até Mercado Livre é possível encontrar anúncios em que a dívida é repassada por valores pequenos, como R$ 500, ou até mesmo sem custo.
O consumidor que mais está se atrapalhando nas contas é aquele que assumiu, além da aquisição do veículo, vários compromissos nos últimos meses, como a compra da casa própria, de móveis e eletrodomésticos.
“Clientes que compraram um carro 2011 voltam à concessionária e financiam um carro 2008, 2009, com prestação mais baixa. Nunca vimos um índice tão grande de troca de um automóvel mais novo por um mais antigo”, diz José Castro Pereira, diretor da concessionária Fórmula Renault em Londrina. Segundo ele, entre 15% e 20% das vendas de seminovos da loja são feitas para clientes que dão de entrada um veículo mais novo.
Segundo dados do Banco Central, a inadimplência do setor dobrou no último ano e bateu 5,7% em março – taxa mais alta desde o começo da série histórica, em 2000.
Mas nas concessionárias há relatos de que o índice de inadimplência em alguns bancos de montadoras chega a 18%. “Há bancos que estão adiando a busca e apreensão dos carros por falta de pátios para acomodar esses veículos”, diz Evandro Lemos Brasileiro, gerente de vendas de novos da Ford Center São José.
Segundo o presidente da Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave) no Paraná, Helmuth Altheim, o maior índice de atrasos está nos financiamentos de carros em 60 vezes. Em média são pagas apenas 20 parcelas, depois disso o orçamento familiar “aperta” e não há mais como honrar com o compromisso. Em um crédito de 60 meses, os pagamentos do primeiro ano amortizam só 10% da dívida.
Com o aumento da ina­­dimplência, os bancos endureceram o crédito para quem está em busca de um automóvel. Financiamentos de 60 meses e sem entrada viraram raridade. A média hoje não passa de 48 meses. Os bancos também alteraram as práticas de análise dos clientes. “Alguns estão investigando o histórico financeiro de até dez anos do comprador”, afirma Evandro Brasileiro, da Ford Center.
Na Servopa, o índice de recusa de cadastro, que era de 20% há um ano, hoje está em 40%, segundo o gerente geral, Ruy Fernando Montingelli. “As pessoas faziam uma conta de que poderiam pagar uma parcela de R$ 600 por mês pelo carro, mas muitas esqueceram de colocar outros gastos, como o do seguro e do combustível, que podem encarecer as despesas em até R$ 375 por mês. Em algum momento essas pessoas vão ter dificuldades”, acrescenta.
Segundo ele, 30% das vendas da concessionária hoje são realizadas com entrada de um veículo mais novo ou mais caro em troca de um mais barato. “Há casos de pessoas que vão até a concessionária com o carro de R$ 45 mil e trocam por um de R$ 25 mil”, diz.

“Estou disposto a dar um passo atrás”
João Pedro Schonarth
O empresário Michel Prado, 24 anos, percebeu neste ano que as contas não estavam fechando, depois de comprar um carro no ano passado. Para pagar os R$ 31 mil pelo novo veículo, ele deu como entrada o carro antigo, que, descontado o valor de quitação, entrou por R$ 11 mil. Os demais R$ 20 mil foram financiados pelo seu banco, que já tinha esse limite pré-aprovado – a contratação do financiamento foi feita em um clique pela internet.
O financiamento ficou em 48 vezes de R$ 630. “É um valor alto, mas ainda estava melhor porque financiei pelo banco que já tinha conta há um bom tempo”, lembra. A situação começou a apertar quando Prado resolveu comprar um apartamento. Para dar entrada no imóvel, teve que tomar um empréstimo para dar uma parcela à vista e financiar outra parte da entrada.
Resultado: hoje o empresário tem, entre prestação do carro, empréstimo e parcela da entrada do imóvel, uma dívida mensal de R$ 1,8 mil. Agora ele tenta uma engenharia financeira para equilibrar as finanças, e a melhor opção que encontrou foi trocar o carro por um mais antigo. Com isso, quitaria o empréstimo e conseguiria manter a prestação do novo veículo e do imóvel.
O problema é que todas as propostas que recebeu de concessionárias não cobrem a quitação do carro mais o pagamento do empréstimo. Para tentar resolver a equação, já anunciou o carro para a venda, mas também não teve sucesso. Entre as propostas oferecidas pelos possíveis compradores, estavam um terreno em Guaratuba e um Monza 1996 e mais R$ 10 mil. “Todas essas contas viraram uma bola de neve e estou disposto a dar um passo atrás com o carro, desde que consiga me livrar do empréstimo. Mas ainda não encontrei uma solução”, ressalta.

Quando a promoção de hoje é o arrependimento de amanhã


Quando a promoção de hoje é o arrependimento de amanhã

DOUGLAS QUENQUA
DO "NEW YORK TIMES"
The New York TimesQuanto vale um cupom de US$ 150? Para Matt Sumell, acabou custando um relacionamento e um pouco do orgulho.
Em janeiro de 2011, Sumell comprou no site de promoções LivingSocial um pernoite em um hotel romântico por US$ 150 (economia de uns 50%). Planejava usá-lo com sua namorada, só que o relacionamento acabou.
Mas Sumell, escritor de ficção e professor de inglês em Los Angeles, não é de jogar dinheiro fora.
Stuart Isett/The New York Times
Karen Eddinger (centro), sua filha Dorey Miller (esquerda) e seu neto Sebastian visitam o Museu da Criança em Seattle; elas usaram o Groupon para comprar entradas mais baratas
Karen Eddinger (centro), sua filha Dorey Miller (esquerda) e seu neto Sebastian visitam o Museu da Criança em Seattle; elas usaram o Groupon para comprar entradas mais baratas
Então, 11 meses depois, às vésperas de o cupom expirar, ele deixou o bom senso de lado e convidou uma moça com quem começara a sair um mês antes.
"Eu falei para ela: 'Vamos lá, vamos dar um passeio, vai ser ótimo'."
Não foi.
"O hotel era em frente a um Hooters [restaurante famoso pelas garçonetes com decotes], e era na semana dos motociclistas", explicou.
Segundo ele, isso significava que o hotel estava tomado por motos rosnando e homens de meia-idade usando roupas apertadas de couro.
Ambiente à parte, o pernoite pareceu apressado e desconfortável. "A coisa toda foi bem esquisita", disse ele.
É assim para pessoas cujo lazer é ditado menos pela vontade própria do que pela dominação dos sites de promoções diárias.
A rápida disseminação de serviços on-line --como Groupon, LivingSocial e Amazon Local-- permitiu que milhões experimentassem restaurantes, aulas e atividades de lazer que do contrário não poderiam pagar (ou de que não tomariam conhecimento).
No entanto, eles também estão compelindo algumas dessas pessoas a gastar tempo com coisas que elas não necessariamente queriam fazer.
Para alguns, trata-se de comer em um restaurante de que a pessoa não gosta.
Para outros, é fazer aulas que prometem que "você consegue aprender salsa", a despeito de toda uma vida de provas em contrário.
Phil Sussman/The New York Times
Kimberly e Stephen Kuhn em um bar de Palm Harbor, na Flórida, encontrado por meio do Groupon; o casal já chegou a usar sete cupons de promoção em um só dia
Kimberly e Stephen Kuhn em um bar de Palm Harbor, na Flórida, encontrado por meio do Groupon; o casal já chegou a usar sete cupons de promoção em um só dia
Para a corretora imobiliária Karen Eddinger, de Seattle, significou se matricular em uma aula de culinária, embora ela odeie cozinhar quase com a mesma intensidade com que odeia assistir aulas. "Realmente não sei por que eu comprei isso", disse ela.
Recentemente, Eddinger levou seu neto para visitar o Museu das Crianças de Seattle pela segunda vez desde outubro, não porque ele tenha gostado, mas porque ela e o ex-marido coincidentemente compraram a mesma promoção do Groupon.
Cupons não são novidade, e os consumidores há muito tempo tomam decisões erradas na intenção de poupar uns tostões.
Mas os sites de promoções são um passo além, em termos de conveniência (chegam por e-mail, e as compras são feitas com um clique), economia (desconto de 50% em estabelecimentos de luxo são comuns) e experiências (quer voar de asa-delta? Tem um Groupon para isso).
"Uma promoção às vezes parece uma coisa realmente maravilhosa, como se você tivesse enganado o sistema e conseguido uma vantagem especial", disse Dan Ariely, autor do livro "Predictably Irrational" (previsivelmente irracional), sobre como nossas percepções distorcidas da economia resultam em decisões ruins.
"Por isso, você tem uma sensação extra de realização, pela qual está disposto a pagar em termos de tempo e dinheiro."
Jamie Roo, diretora de marketing em Nova York, viu-se no ano passado comendo em um restaurante do qual ela e o marido há muito tempo concluíram que não gostavam, só porque ela não havia resistido a uma promoção que viu alguns dias antes no site da Amazon. "Nós, de alguma maneira, convencemo-nos a voltar", disse.
Como era de se esperar, a promoção não tornou a comida mais gostosa. "A moral da história é: não vão só porque é uma promoção."

quinta-feira, 26 de abril de 2012

ESSA É A PROVA QUE NEM O TRABALHO DOS LEGISLATIVOS NO BRASIL FUNCIONA.


Um quarto das CPIs não produz relatório final no Brasil



Passados vinte anos desde a CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) de Paulo César Farias, cujo principal desdobramento foi o processo de impeachment do então presidente Fernando Collor de Mello, o Brasil acumula 92 CPIs instauradas no Congresso Nacional nas duas últimas décadas, entre comissões criadas pela Câmara, pelo Senado ou Mistas (com senadores e deputados).
DA BBC BRASIL

Entre as comissões já encerradas, cerca de 25% (o equivalente a 25 CPIs) não aprovaram nenhum relatório, ou seja, nenhum documento que fosse aprovado pela comissão, permitisse que outros órgãos e outras instâncias punissem eventuais culpados de desvios.

Das 92 comissões criadas, sete estão em curso atualmente. Isso inclui a CPI mista do caso Cachoeira, que está em fase de instauração no Congresso, e as comissões que investigam supostas irregularidades no Ecad (escritório que faz a arrecadação e distribuição de direitos autorais) e o tráfico internacional de pessoas no Brasil.

Do total das CPIs finalizadas, pouco mais de 70% chegaram a um relatório final, embora especialistas divirjam sobre a eficácia e o legado das investigações.

Os números foram levantados pela BBC Brasil com a ajuda da Câmara, do Senado e de um estudo dos pesquisadores Lucas Queija Cadah e Danilo Centurione, do Departamento de Ciências Políticas e do Núcleo de Pesquisas de Políticas Públicas da USP.

Como aponta o estudo, "as CPIs são objeto de sentimentos contraditórios por parte da sociedade e da imprensa: Ao mesmo tempo em que é lugar comum dizer que elas nunca levam a nada, sempre que se acha necessário investigar melhor algum acontecimento no âmbito do governo, defende-se fervorosamente a instalação de CPIs".

GARGALOS

Uma questão-chave é que essas comissões têm limites de atuação - em resumo, podem investigar, mas não podem indiciar ou punir criminalmente, funções que cabem à Justiça. Daí o motivo para elas causarem tanta frustração entre os brasileiros.

As comissões, explica o estudo de Cadah e Centurione, têm amplos poderes investigativos - para convocar testemunhas e colher provas, por exemplo -, "mas não podem decretar nenhum tipo de prisão, nem aplicar cautelas como indisposição de bens e proibir (suspeitos) de deixar o país".

O que elas fazem é recomendar ao Ministério Público ou ao Tribunal de Contas da União, por exemplo, que prossigam com a responsabilização civil ou criminal das pessoas envolvidas nos casos investigados.

Para Marco Antonio Teixeira, do Departamento de Gestão Pública da FGV-SP, é aí que está mais um motivo da frustração.

"O gargalo é o Judiciário. Vemos que o caso do Mensalão, cujo processo é resultado da CPI dos Correios (2005), só agora está (na pauta) do Supremo Tribunal Federal."

Levantamento do jornal Folha de S. Paulo em setembro do ano passado mostrava que os principais casos de corrupção do país se arrastam há anos ou décadas pela Justiça. Um exemplo é o caso de desvio de dinheiro conhecido como o dos "Anões do Orçamento", de 1993, que foi alvo de CPI. Mas, de 31 réus, apenas nove foram condenados.

"O mais problemático é o Judiciário não conseguir responsabilizar criminalmente (os acusados)", complementa Cadah.

Os relatórios finais de CPIs também podem recomendar, ao próprio Legislativo, a cassação de um congressista envolvido em denúncias. Mas daí isso terá que ser analisado pelo Conselho de Ética da Casa, e "entram em jogo outros interesses", aponta o pesquisador.

CPIS, DO NASCIMENTO À MORTE

As CPIs nascem a partir do requerimento de um congressista, em geral a partir de denúncias ou clamor público, e dependem da assinatura de um terço dos membros da Câmara ou do Senado (dependendo de onde são instauradas; CPIs mistas precisam de um terço de ambas as Casas).

Seu prazo de atuação é de 120 dias, prorrogáveis por mais 60.

A principal "causa da morte" de CPIs, explica Cadah, é a falta de assinaturas para protocolá-la. Passado esse estágio, algumas podem morrer na praia - perderem o prazo ou não apresentarem nenhuma conclusão -, mas, segundo ele, a maioria é concluída.

E, uma vez que a CPI é instalada, a lei não prevê nenhum requerimento que possa eliminá-la.

O relatório é uma peça importante, por se tratar de uma espécie de legado da CPI. É ali que os congressistas fazem recomendações para o próprio Legislativo ou para outros órgãos - Ministério Público, Tribunal de Contas da União, Poder Executivo, entre outros - sobre medidas a serem tomadas, pessoas a serem investigadas ou cassadas, mudanças legislativas a serem propostas.

O âmbito de atuação é amplo: diz a Câmara que as comissões "destinam-se a investigar fato de relevante interesse para a vida pública e para a ordem constitucional, legal, econômica ou social do país".

Isso explica por que temos CPIs de assuntos tão variados, que englobam desde denúncias de corrupção política até biopirataria, direitos autorais, grilagem, tráfico de armas, tarifas de energia... E também desperta a preocupação quanto se é producente alocar recursos do Congresso em investigações sobre temas tão amplos e diversos, em vez de focar na atividade legislativa.

Mas, para Cadah, é possível ver vantagens nisso: "É de seu escopo discutir temas (caros à sociedade), contribuir pro debate legislativo. Algumas, como a da pedofilia, acabaram fazendo investigações em Estados onde a polícia pode estar contaminada pela corrupção".

E assim continua o desperdício e desvio de dinheiro público e a falta de segurança.


Vida e Cidadania

Quinta-feira, 26/04/2012

COMUNIDADE

Henry Milleo/ Gazeta do Povo
Henry Milleo/ Gazeta do Povo / Módulo policial desativado na Rua Primeiro de Maio, Vila São Pedro, em CuritibaMódulo policial desativado na Rua Primeiro de Maio, Vila São Pedro, em Curitiba
SEGURANÇA

Módulos vazios prestam desserviço

Bases policiais criadas para atender a população estão vazias e servem até como ponto de encontro de traficantes e usuários de drogas

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Publicado em 26/04/2012 | ELLEN MIECOANSKI
Localizados em praças e pon­­tos de bastante movimento, os módulos policiais representam hoje o extremo oposto do que já foram um dia. Para moradores e comerciantes próximos às estações abandonadas em Curitiba, as estações são o retrato da ausência do Estado em lugares onde a criminalidade cresce. Desativados ou com a presença de policiais apenas em determinadas horas do dia, os módulos são vistos como um símbolo de desperdício de dinheiro público e da falta de segurança.
Isso ocorre no bairro Água Verde. Situado próximo a um dos cemitérios municipais, o módulo policial que está fechado poderia minimizar o número de assaltos e furtos de carros da região. É o que pensa Reinaldo Skrzepszak, comerciante de 60 anos que mora no bairro e que teve seu veículo roubado há poucos meses quando seu filho saía de casa. “Tenho que olhar para fora cada vez que entro ou saio de casa para ver se não tem ninguém. Se o módulo estivesse funcionando aqui iria amenizar esse problema, porque o ladrão quer coisa fácil, sem riscos”, fala.
Estação móvel
Trailers devem levar policiais aos bairros
Um das metas do governo para a área de segurança pública é disponibilizar 387 módulos policiais à população do estado até 2014. Segundo a Secretaria de Segurança Pública (Sesp), o quadro de abandono de módulos policiais será revertido inicialmente com a compra de módulos móveis.
Serão 150 veículos adaptados (vans) para fazer o serviço de um módulo convencional que estarão circulando nas grandes cidades paranaenses até o fim do segundo semestre deste ano, ou até 2013, no caso de municípios de médio porte.
O comandante geral da Polícia Militar em exercício, coronel César Alberto Souza, explica que cada bairro receberá um módulo móvel que permanecerá na região e poderá ser deslocado conforme a demanda da comunidade.
Polícia Comunitária
Os módulos móveis, segundo o comandante, fazem parte da política de policiamento comunitário e contarão com vans de dois tamanhos: um semelhante aos já usados hoje pela PM e que contam com 12 policiais, e outro equipado com câmera que vigiará todo seu entorno conectado a uma central. Este modelo terá o apoio de duas motocicletas e uma viatura, disponibilizando ao todo 18 homens.
“Quando não forem mais utilizados nos bairros, os módulos auxiliarão na cobertura de feiras e outros eventos”, explica o coronel César. Ele afirma que os recursos para a compra desses equipamentos é assegurado pelo programa Paraná Seguro e já estão previstos no Plano Plurianual (PPA) do governo.
Aproximação
Para Guaracy Mingardi, pesquisador de Direito da Fundação Getúlio Vargas de São Paulo e ex-subsecretário nacional de segurança pública, desde que não sejam fixados em determinados pontos da cidade, os módulos móveis podem cumprir esse papel de aproximação com a comunidade. É o que pensa também Luiz Donabon Leal, pesquisador do Núcleo de Estudos da Violência da Universidade Estadual de Maringá (UEM).
Para ele, a mobilidade dos módulos funcionaria melhor para atender locais mapeados como mais violentos. “O módulo móvel talvez consiga atender de forma mais efetiva as necessidades de policiamento dessas regiões porque ele amplia a relação entre a população e a autoridade”.
Desativados
Com relação aos equipamentos públicos de segurança construídos nos bairros que permanecem trancados, o comandante em exercício fala que eles poderão ser reformados e adaptados novamente para uso desde que esteja localizado em pontos estratégicos para a segurança da região.
“Depois de consolidada a situação de segurança da área serão construídos módulos fixos onde houver necessidade”, explica o coronel.
Quem também já foi assaltada e sente falta da presença permanente dos policiais é a pensionista Vanda Alves Alice, de 73 anos. Van­da mora em frente ao módulo do Jardim Social e conta que a polícia vai algumas vezes por dia até o módulo, permanece no local por alguns instantes e depois vai embora. Foi em um desses intervalos sem policiais que a casa de Vanda foi assaltada e a pensionista teve suas joias e equipamentos eletrônicos furtados. “Se tivesse policial ali pelo menos teria visto o movimento estranho”, diz a moradora.
Policiais presos
Guaracy Mingardi, pesquisador de Direito da Fundação Getúlio Vargas de São Paulo e ex-subsecretário nacional de Segurança Pública, afirma que a necessidade de ter policial à disposição da população vai além da construção ou reativação dos módulos. “É evidente que alguns locais precisam de módulos e outros não, mas eles não podem prender a polícia lá dentro e tirar o efetivo da rua.”
Em sua opinião os módulos são políticas que não deram certo e que devem ter novos usos. “Não deveriam ser reabertos, mas eles não foram construídos para ficarem fechados. Deveriam ter uma destinação social, alguns podem servir, inclusive, para atividades comunitárias”, diz Mingardi.
“Mocó” estratégico
Entre os módulos desativados da capital, o implantado na Vila São Pedro recebeu durante meses uma nova função, porém nada nobre ou dentro da legalidade. Hoje a construção está completamente pichada e é cercada por grades, mas ainda assim serve como ponto de encontro de traficantes e usuários de drogas.
“Quando os policiais saíram do módulo, os traficantes entravam e usavam o espaço para fazer comércio lá dentro. Então a comunidade tirou a porta e fechou com parede. Olha que absurdo”, fala Luiz Alberto Sobania, de 65 anos, dono de uma loja em frente ao equipamento, que fica em uma praça que dá acesso a dois colégios estaduais, um Centro de Referência de Assistência Social (Cras) e um Farol do Saber. “Faz cinco anos que esse módulo está fechado e com certeza faz falta. Já fui assaltado quatro vezes nesse tempo e agora os traficantes agem na praça o dia todo”, conta Luiz.
Ausência de polícia
Qual a melhor destinação para os módulos policiais que hoje estão inutilizados?
As cartas selecionadas serão publicadas na Coluna do Leitor.