segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Uma lição para o problema de casa.


 EDUCAÇÃO

Uma lição para o problema de casa

Crises familiares afetam a vida escolar dos filhos. Projetos tentam ajudar os pais por meio de experiências compartilhadas
Publicado em 05/11/2012 | MARIA GIZELE DA SILVA, DA SUCURSAL DE PONTA GROSSA
Quando o aluno tira notas baixas na escola, uma série de fatores pode estar envolvida. Um deles é a convivência familiar. A criança precisa, segundo especialistas, de estabilidade e previsibilidade no ambiente familiar. Mas os problemas, às vezes, são inevitáveis. Neste sentido, projetos têm tentado diminuir o impacto das dificuldades vividas dentro de casa que insistem em ir para a sala de aula. 
A Secretaria Municipal de Educação de Castro, nos Campos Gerais, iniciou em 2006 o projeto “Fortalecendo as relações familiares”. O programa atende perto de 40 pais e mães em três escolas municipais, sendo uma na zona rural. Os diretores das escolas convidam os pais e mães, cujos filhos enfrentam problemas de aprendizagem, para encontros quinzenais que envolvem dinâmicas de grupo e momentos de partilha de experiências pessoais. A receptividade tem sido boa entre os pais, que aproveitam para discutir problemas vividos e já superados, além de receber orientações de pedagogas e de um psicólogo, que acompanham os encontros.
Encontros servem como aprendizado
A reportagem acompanhou uma das reuniões do projeto “Fortalecendo as relações familiares”, na escola José Nery Napoli, em Castro. As 12 mães presentes fizeram a brincadeira do “casa – morador – terremoto”. Nela, duas pessoas dão as mãos para formar a casa e um terceiro se torna o morador. Quando o coordenador do encontro fala a palavra “terremoto” o trio se desfaz e cada um procura novos parceiros.
A participante Clarice Terezinha Oliveira conta que já passou por um “terremoto” quando se mudou de cidade e logo depois se separou. A colega de grupo, Neura de Fátima Almeida de Lima, viveu há dois anos o temor de perder o marido. Ele era alcoólico e quando percebeu o risco da separação lutou contra a dependência. “Hoje, tudo está melhor”, conta.
Projeto Nacional
Escola de Pais completa 50 anos em 2013
Outro projeto que também consiste na partilha de experiências é o da Escola de Pais do Brasil (EPB). No ano que vem, a iniciativa completa 50 anos no país. O programa é baseado em dez encontros de 90 minutos de duração cada um, na própria escola. Os pais e demais convidados debatem, a cada encontro, um tema diferente relacionado à educação dos filhos.
“A parte mais interessante é a troca de informações, porque muitas vezes um problema vivido por um pai na educação do filho já foi vivido e resolvido por outro pai”, afirma o coordenador da seccional de Curitiba da EPB, Milton Malanski. Para consultar se o programa existe em sua cidade, acessewww.escoladepais.org.br.
A escola tem 290 alunos do primeiro ao quinto ano do ensino fundamental. A diretora, Valdinéia Teixeira Ferreira, diz que os problemas de indisciplina são raros, mas que muitas crianças têm dificuldades de aprendizado. “O projeto é muito bom e nós incentivamos os pais a participarem porque conhecendo o pai você conhece o aluno”, afirma.
Conversa
Para especialistas, é preciso explicar aos filhos o que está acontecendo em casa, porém, dentro da capacidade de entendimento da criança ou do adolescente.Uma adversidade vivida no ambiente familiar pode ser a “gota d’água” para o estudante que já enfrenta uma defasagem de aprendizado, segundo a psicóloga e coordenadora do Núcleo de Estudos sobre Problemas de Aprendizagem da Universidade de São Paulo (USP), Edna Maria Maturano.
Ela reforça que para se manter segura a criança precisa crescer num ambiente com estabilidade e previsibilidade. “Quando os conflitos transbordam, a criança precisa de uma base segura e daí a importância de manter uma rotina em casa, com horários e regras”, acrescenta Edna. Ela lembra também que os pais devem evitar que os filhos presenciem cenas de agressão ou de discussão.
A psicopedagoga e gestora institucional de educação infantil do grupo Positivo, Rosana Pessatti, usa o exemplo da separação dos pais, que é mais comum entre as famílias, para explicar como se comportar com o filho em idade escolar. “Não adianta falar para a criança sobre a guarda compartilhada, por exemplo. Ela não vai entender. Vai passar a entender isso com a nova rotina”, afirma.
“O mais importante é mostrar para o filho que a vida conjugal acabou, mas que continua existindo um pai e uma mãe. É bom frisar que perante a criança você tem que se comportar como adulto e não usar a criança como arma para agredir o companheiro”, comenta Rosana.

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